A Atenção Primária em Saúde: Portugal e o contexto atual

por gabriellufchitz

Portugal é uma das nações mais antigas da Europa, com sua geografia praticamente mantida ao longo dos séculos. Apesar de ser um país de pequenas dimensões, suas regiões variam bastante entre si, entre os tradicionalismos das aldeias e pequenas regiões e a vida urbana das três maiores cidades- Lisboa, Porto e Coimbra.

A família constitui a essência para grande parte dos cerca de 10 milhões de habitantes, sendo que a Igreja Católica exerce grande influência nos costumes, principalmente nas cidades mais afastadas dos grandes centros urbanos.

Após ter vivido um período de grandes dificuldades durante os anos da ditadura Salazarista até atingir a democracia em 1974, o ingresso de Portugal na União Européia em 1986- junto com a Espanha- proporcionou ao país um rápido desenvolvimento econômico. Entretanto, Portugal hoje é uma das nações que mais sofre com a atual crise sócio-econômica européia, vivendo cortes crescentes no orçamento dos serviços públicos, incluindo obviamente cortes nos gastos com o Sistema Nacional de Saúde.

O famoso Mercado doBolhão, na cidade do Porto, com suas lojas fechadas em função da atual crise econômica

A Medicina de Família em Portugal e o exemplo brasileiro: alguns recortes

Apesar de um período de grande crescimento no número de representantes da Medicina de Família na Europa e Portugal após a conferência de Alma-Ata(1978), a Medicina de Família parece confrontar-se com surpreendentes desafios, não só em Portugal mas em praticamente todas as nações desenvolvidadas.

Um exemplo recente vem da Faculdade de Medicina de Viena, que reviu seu currículo recentemete e diminuiu o número de horas curriculares dedicadas à especialidade.

Na visão de Luís Pisco, atual vice presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT) e antigo coordenador da Missão para os Cuidados Primários em Saúde (MCSP), ” a atual recessão sócio-econômica que assola a Europa deveria conduzir a uma maior atração dos gestores pela atenção primária à saúde (APS) e à Medicina Geral e Familiar, já que está mais que comprovada a efetividade das equipes multidisciplinares na rentabilidade dos sistemas de saúde e na melhoria dos indicadores de saúde das populações. Apesar de vermos os responsáveis pelas políticas de saúde mostrarem as melhores intenções com a APS, mas na prática não encontramos uma aposta clara na formação, na informatização dos serviços ou na resolução dos problemas, ao nível do recursos humanos, por exemplo”.

O antigo coordenador aponta que os gestores estão mais preocupados com a sustentabilidade do setor hospitalar, já que os políticos geralmente têm um ciclo de atividade curto, e apostam em investimentos que dêem maior visibilidade política a curto prazo, como no setor hospitalar, já que apostar na APS é apostar em resultados a longo prazo.

Ainda, de acordo com o vice presidente da ARS-LVT, o desinvestimento na APS não é um fenômeno nacional, mas sim algo trans-fronteiriço: “percebemos que, um pouco por todo o lado, se investe pouco na APS e nos sistemas públicos de saúde universais. A única exceção que parece confirmar a regra é a do Brasil, onde os governantes continuam a apostar forte num sistema universal, centrado nas Equipes de Saúde de Família”.

Referências:

Guia Visual EUROPA Folha de S.Paulo, 7ª edição brasileira, 2010.

Jornal Médico de Família, nº 235, 17 maio 2012. Acessível em http://www.jmfamilia.com

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Na semana que vem, pretendo postar um texto com as principais características da APS em Portugal, baseado na experiência em 2 Centros de Saúde locais. Até lá!